telefonema

liga-me mais tarde,
e subitamente (re)conheceu um
sabor que veio com alarde
já quebrando o longo jejum
de desaprendidos afetos
uma ligação forte e jovem,
deixara-os inquietos —
teria sido sorte?
um recorte de felicidade,
que só vem
de nunca em nunca,
e vai embora
quando o quer bem
trocando o minuto pela hora,
e a hora pelos dias,
é vontade sincera
que somente tu sacias;
se o tempo mais rápido passa,
é graças ao afável
coração que acelera
todos assistem ao formidável
desenterro de minha primeira quimera -
se me pedes que aguarde,
aguardo eu, pois, na linha de espera.
liga-me mais tarde,
dizes com um ar de fervor
afinal, já diriam os sábios,
se amor é fogo, sentes -
quando quentes queimam os lábios -
um calor ao falares aquele nome
e ao telefone ouvires uma voz sublime,
a qual os mais profundos desejos exprime
e que se atreve
a ser leve como nada
e delicada como neve,
mas sorrateira como quem deve
e fogosa como quem gama,
pois é também chama,
que dentro de ti arde
e te chama:
liga-me mais tarde…